Médicos catarinenses, especialistas em pacientes trans comemoram o avanço, embora no Brasil isso seja protocolo desde 2018

Os médicos José Carlos Martins e Claudio Eduardo de Souza, que comandam em Blumenau a Transgender Center Brazil

Neste mês da visibilidade trans, a população transgênera tem mais um motivo para comemorar. Finalmente, após 28 anos sendo considerada como transtorno mental, a transexualidade deixou de ser uma doença, de acordo com a OMS.

A Organização Mundial da Saúde tomou a decisão em 2018 e fixou o prazo de 1º de janeiro de 2022 para que ela fosse adotada por todos os países que integram o organismo. No Brasil, desde 2018 a regra já é adotada. A Classificação Internacional de Doenças (CID) manteve a transexualidade como um transtorno mental por 28 anos.

Para José Carlos Martins, que comanda a Transgender Center Brazil, em Blumenau, a nova determinação não muda em nada o que já acontece no Brasil.

“Quando a OMS fez essa notificação, em 2018, o Brasil já desconsiderou a transexualidade como doença, o que na verdade nunca foi. Nós que trabalhamos com pacientes trans sabemos que não há nenhum desvio intelectual, ou transtorno mental, apenas uma disforia de gênero, ou seja, o paciente não se vê com o sexo biológico de nascimento”, acrescenta.

O médico e seu sócio, Claudio Eduardo de Souza são responsáveis pela cirurgia de mais de 500 pacientes que optaram pela transição de gênero.

Especialistas no atendimento a este público, os médicos concordam que o assunto “transgêneros” ainda é um tabu no Brasil, onde este público ainda é muito marginalizado, mesmo dentro de casa.

“O preconceito já vem muitas vezes na própria família, que primeiro não aceita a transexualidade de um filho (a), isso quando não expulsa de casa”, adverte o médico.

O apoio, principalmente dos familiares é fundamental para a transição, acrescentam.

José Carlos Martins Jr, autor do livro “TRANSGÊNEROS: Orientações médicas para uma transição segura”

Em 2020 José Carlos Martins lançou o livro “TRANSGÊNEROS: Orientações médicas para uma transição segura”, onde traz para a população transgênera informações seguras acerca do tema.

Visibilidade trans

Em 29 de janeiro comemora-se no Brasil o Dia da Visibilidade Trans. A ideia surgiu em 2004, quando um grupo de ativistas trans participou, no Congresso Nacional, do lançamento da primeira campanha contra a transfobia.

A ação foi promovida pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, com o objetivo de ressaltar a importância da diversidade e respeito para o movimento trans, representado por travestis e transexuais. A data passou, então, a representar a luta cotidiana das pessoas trans – especialmente as que se encontram em situação de vulnerabilidade – pela garantia de direitos e pelo reconhecimento da sua identidade.

Uma pesquisa inédita na América Latina apontou que 1,9% da população brasileira é de pessoas transgêneros ou não binárias: são 4 milhões de indivíduos em uma população estimada em 2020, pelo Banco Mundial, em 212,6 milhões de pessoas.

O estudo foi desenvolvido pela Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foram entrevistadas 6.000 pessoas em 129 municípios de todas as regiões do país.

Segundo os participantes do projeto, os resultados mostram a urgência de políticas de saúde voltadas para esse público.

Os resultados mostram que pessoas identificadas como transgênero representaram 0,69% e pessoas não binárias, 1,19%. O termo transgênero descreve “pessoas que se identificam com um gênero incongruente ou diferente daquele que lhes foi atribuído no nascimento”, conforme explicação da Unesp. Já o termo não binário diz respeito a indivíduos que sentem que sua identidade de gênero está fora das identidades masculina e feminina, ou entre elas.

Segundo a pesquisa, realizada em 2021, a proporção encontrada é similar à de outros países que dispõem de estudos populacionais nesse sentido, como Estados Unidos e Inglaterra.

Compartilhe!