
Quanto mais cedo o Transtorno do Espectro Autista é percebido, melhores as chances de um controle eficaz e qualidade de vida
Para explicar o que é o TEA (Transtorno do Espectro Autista,) o mais fácil é dizer o que ele não é. Ao contrário do que os estigmas apontam, o transtorno do espectro autista não caracteriza uma doença, mas sim uma variação do funcionamento típico do cérebro, e geralmente se manifesta nos primeiros anos de vida.
Esses sintomas são principalmente déficits em funções de comunicação, sociabilidade e interação, e a presença de comportamentos, interesses e atividades restritas e repetitivas, que podem estar presentes em maior ou menor intensidade.
Segundo os especialistas, o autismo se instala nos três primeiros anos de vida, quando os neurônios que coordenam a comunicação e os relacionamentos sociais deixam de formar as conexões necessárias. Embora o transtorno seja incurável, quando demora para ser reconhecido, esses neurônios não são estimulados na hora certa e a criança perde a chance de aprender.
No Brasil o transtorno, em sua grande maioria, só é identificado quando a criança já tem de 5 a 7 anos. Esse atraso agrava as deficiências do autismo e traz mais sofrimento para as famílias.
Segundo a médica, que atende na Psiquiatria, Dra. Aurora de Fátima Andrade, quando se trata do nível de suporte 1 do TEA (existem níveis 1, 2 e 3, de acordo com a necessidade de apoio do indivíduo), dificilmente o mesmo será identificado na infância. “Os sintomas passam despercebidos pelos pais e profissionais de saúde, pois tendem a ser mascarados por comportamentos mais sutis, o que faz com que o diagnóstico fique praticamente inviável na 1ª infância”, pontua.
A quantidade exata de pessoas diagnosticadas com TEA ainda é incerta. A prevalência estimada por organismos internacionais é de 1 caso para cada 44 nascimentos. No Brasil, estima-se que haja, aproximadamente, dois milhões de pessoas com TEA, ou seja, 1% da população.
Em Santa Catarina, uma das bases de dados que oferece um panorama do autismo é a Carteira de Identificação do Autista, expedida pela FCEE (Fundação Catarinense de Educação Especial). De fevereiro de 2020, quando foi lançada, até março de 2025, 31 mil pessoas com TEA já foram beneficiadas com o documento.
Quando falamos em diagnósticos “tardios”, após os 8 anos de idade, esses números tendem a aumentar, de acordo com a Dra. Aurora, mas não há dados específicos no país.
Embora não exista causa específica para o TEA, evidências científicas apontam forte influência genética, hereditária e associação com fatores de riscos ambientais. Aurora explica que o diagnóstico pode ser feito em qualquer idade, porém na vida adulta torna-se mais desafiador, pois muitos indivíduos aprendem a mascarar seus sintomas para se adequar às expectativas sociais.
Os sintomas de autismo podem variar de acordo com a gravidade do transtorno, mas em adultos nível 1 de suporte, especialidade da médica, que também é autista de nível de Suporte 1, podem ser dificuldade de interpretar linguagem não verbal, como expressões faciais (olhares, gestos, por exemplo); pouca aptidão em compreender ironias, metáforas ou mensagens com duplo sentido, podendo parecer uma pessoa ingênua ou não maliciosa; sinais discretos para sentimentos como tristeza, alegria, raiva e cansaço, por exemplo, geralmente não são percebidos pelos autistas, o que pode ser visto como falta de empatia; dificuldade em expressar afeto e falar sobre seus sentimentos, assim como em receber demonstrações de carinho e compreender o sentimento dos outros; podem ter um desempenho acima da média em algumas atividades, visto que possuem interesses restritos e repetitivos (hiperfoco), o que os torna bastante talentosos em áreas com as quais possuem afinidade; baixa tolerância a barulhos, ambientes agitados, a muita iluminação, assim como a contato visual prolongado e contato físico muito próximo, entre outros.
“Essa lista é meramente exemplificativa, visto que cada pessoa do espectro possui seu conjunto particular de manifestações”, acrescenta.
Para a médica, a detecção precoce do Transtorno do Espectro Autista é crucial para o desenvolvimento da pessoa autista, pois permite a implementação de intervenções terapêuticas e educacionais que podem melhorar significativamente a qualidade de vida e o progresso de habilidades sociais e de comunicação.
Quando o diagnóstico é tardio, as oportunidades para essas intervenções são perdidas ou adiadas, o que pode resultar em desafios adicionais para os indivíduos com TEA. Estudos indicam que o diagnóstico tardio está associado a uma variedade de consequências negativas, incluindo dificuldades emocionais, como baixa autoestima e autopercepção negativa, transtornos de ansiedade, episódios depressivos, além de impactos na educação e nas oportunidades de emprego.
É importante destacar que o diagnóstico tardio de autismo não apenas afeta o indivíduo, mas também suas famílias, que podem enfrentar incertezas e desafios ao buscar apoio e recursos adequados. A falta de um diagnóstico precoce pode resultar em anos de confusão e busca por respostas, o que pode ser uma fonte de estresse significativo para o indivíduo e suas famílias.
Dra, Aurora explica que o diagnóstico é feito por um psiquiatra, psicólogo especializado, neurologista, ou profissionais médicos habilitados para tal, após avaliações clínicas e testes especializados.
O tratamento é geralmente feito com Psicoterapia, e pode incluir o uso de medicamentos que vão tratar as comorbidades desenvolvidas ao longo do tempo, tais como processos ansiosos, depressivos, fobias, transtornos de personalidade e/ou quaisquer outras alterações passíveis de tratamento medicamentoso que orbitem o autista com diagnóstico tardio.
Como o autismo afeta diretamente as habilidades sociais de comunicação e relacionamento, é comum que o indivíduo procure um Serviço de Saúde Mental com outras queixas.
Não é raro que o autismo venha acompanhado de outras condições, as chamadas comorbidades, principalmente na fase adulta.
Os prejuízos provocados pela dificuldade de socialização e a autopercepção negativa podem desencadear transtornos de ansiedade e depressão, por exemplo.
O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade também está associado ao TEA em 30% a 50% dos casos.
Hiperfoco no trabalho, dificuldades com mudanças de rotina e sensorialidade exacerbada (como alta intolerância a ruídos) também são sinais importantes.
Tratamento
O autismo é uma condição onde as abordagens realizadas têm o objetivo de guiar num processo de autoconhecimento e independência, não de eliminar o transtorno.
As recomendações são individuais, então cada caso é analisado isoladamente para que seja montado um plano de intervenção que corresponda às necessidades de cada paciente, mas podemos citar algumas intervenções mais prevalentes:
• Psicoterapia para desenvolver habilidades sociais, gerenciar o estresse, respondendo a mudanças repentinas;
• Medicamentos ansiolíticos, antidepressivos e estabilizadores de humor, em alguns casos;
• Terapia Ocupacional para avaliar sensibilidade a estímulos sensoriais, como sons, luzes e percepções olfativas.
Sobre a médica Dra. Aurora de Fátima Andrade
Atua como Clínica Geral e Medicina da Família e Comunidade, em Balneário Camboriú. Possui Pós-Graduação em Psiquiatria e Saúde Mental, Pós-Graduação em Neurociências, com Formação médica em Araguari MG, no Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos- IMEPAC (filiado ao CMS/ harvardmedsim.org). Atende Autistas Nível de Suporte 1 e 2, TDAH e Altas Habilidades.
É funcionária pública efetiva pelo SUS – Secretaria de Saúde, atendendo on-line e à domicílio, em Saúde Mental.
Atende aos pacientes usando o colar de identificação do autismo e faz testes e laudos, para diagnóstico de TEA e TDAH.
Para atendimentos presenciais, agendamento pelo número (47) 9.8869-0051.
Créditos: Divulgação
Legenda: Dra, Aurora de Fátima Andrade
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