Brasil descarta em aterros 75% das peças de roupa usadas

O custo logístico é o principal gargalo para o reaproveitamento de materiais têxteis, o que impede a gerar maior circularidade – e sustentabilidade – do setor no Brasil, especialmente quando se trata de volumes menores e resíduos pós-consumo. No atual modelo linear, que se sobressai atualmente, estima-se que de 70% a 75% das peças de vestuário usadas no país são descartadas em aterros sanitários, visto que a variedade e a dificuldade de agrupar esses materiais tornam o processo de reciclagem mais complexo e custoso. Apenas de 1% a 2% dos produtos são desfibrados e reinseridos em processo fabril.

O tema foi tratado nesta terça-feira, no painel ’Economia circular no setor têxtil e vestuário: caminhos para inovação e sustentabilidade’, dentro da 18ª Feira Brasileira da Indústria Têxtil (Febratex), que prossegue até sexta (23) e é o maior evento do setor na América Latina. Os especialistas Jairo Dias e Adriano Passos, coordenadores dos institutos SENAI em Santa Catarina e Rio de Janeiro, respectivamente, compartilharam suas experiências e citaram soluções desenvolvidas pelas instituições para a indústria têxtil no Brasil.

Debate sobre a economia circular teve ainda a apresentação de soluções desenvolvidas pelo SENAI para demandas do setor. Divulgação

Coordenador do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil, Vestuário e Design, de Santa Catarina, Dias ressaltou a importância de conscientizar as indústrias sobre a magnitude do problema dos resíduos têxteis e as soluções já disponíveis para promover a circularidade. Ele enfatizou que, ao transformar resíduos em novos materiais, como fios e tecidos, é possível não apenas reduzir o impacto ambiental, mas também diminuir os custos de produção e aumentar a competitividade da indústria têxtil brasileira. A colaboração entre empresas, instituições de ensino e governos é crucial para viabilizar essa transição.

A palestra ressaltou que a economia circular no setor têxtil não é apenas uma tendência, mas uma necessidade urgente para garantir a sustentabilidade a longo prazo. As iniciativas apresentadas demonstram que, com inovação e cooperação, é possível transformar desafios em oportunidades, criando um futuro mais sustentável para a indústria da moda e vestuário no Brasil.

Conforme Jairo Dias, o Instituto SENAI Tecnologia Têxtil, Vestuário e Design tem realizado análise de tecidos desfibrados, atendendo demanda de empresas que atuam com esta atividade. Ele acrescenta que de 20 a 27% das peças são reaproveitadas pelos consumidores. São transformadas para outras aplicações.

Por sua vez, Adriano Passos, coordenador de Inovação em Fibras no Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras, do Rio de Janeiro, destacou diversas inovações desenvolvidas pelos Institutos SENAI, como os tecidos condutores de grafeno e as fibras compostas retardantes de chamas, usadas na construção civil. Entre os cases de sustentabilidade, foram apresentados projetos de desenvolvimento de fibras e tecidos a partir de biomateriais como o pseudocaule da bananeira, cacau e cupuaçu, que têm o potencial de transformar resíduos agrícolas em fios têxteis de alta performance, tanto para a moda quanto para aplicações técnicas.

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