Cerca de 2,2 bilhões de pessoas no planeta têm deficiência visual, de acordo com estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Dessas, pelo menos 1 bilhão têm algum tipo de deficiência que poderia ter sido evitada ou que ainda não foi tratada. No Brasil, segundo um relatório do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, catarata e erro refrativo não corrigido representam 74,8% de todos os casos de deficiência visual. Glaucoma, degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e retinopatia diabética também podem causar a perda da visão e estão na lista. Com todas essas doenças que afetam os olhos, foi criado o Dia da Saúde Ocular – 10 de julho – cujo objetivo é alertar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico de doenças oculares que, se não tratadas, podem levar à perda da visão.
Com todos esses dados, o médico oftalmologista Mauro Leite, membro da Associação Brusquense de Medicina (ABM), ressalta a importância da avaliação oftalmológica regular, pois ela fornece muito mais informações do que só a prescrição de óculos. “É muito frequente que o paciente procure o oftalmologista apenas para obter uma prescrição de óculos, mas o exame oftalmológico vai muito além disso. Podemos detectar glaucoma, catarata, degeneração na retina, entre outras condições. Além dos problemas oculares, o exame oftalmológico permite a avaliação de doenças sistêmicas como diabetes, hipertensão e até doenças reumatológicas como artrite reumatoide e lúpus. Portanto, a consulta regular ao oftalmologista é fundamental para a saúde geral dos olhos e do corpo”, explica o médico.
Ainda, segundo o especialista, as queixas mais frequentes encontradas no consultório são baixa de visão, ardência nos olhos e dor ocular. Porém, ao sentir algum desses sintomas de forma súbita, é muito importante procurar um oftalmologista o mais rápido possível. Algumas doenças oculares são agravadas quando há demora para fazer o diagnóstico e tratamento, podendo determinar o prognóstico da visão do paciente. “É importante ter em mente que a ausência de sintomas não exclui a existência de uma doença. Algumas condições, como o glaucoma, podem não causar sintomas nas fases iniciais e, se não diagnosticadas e tratadas a tempo, podem levar à cegueira irreversível”, frisa.
Cirurgia Plástica e Botox
Atualmente, tem aumentado o número de pessoas que se submetem a cirurgia plástica ou aplicação de botox na face, muitas delas na região dos olhos. O oftalmologista Mauro Leite explica que a função primordial da pálpebra é piscar. “Piscar é essencial para espalhar a lágrima de maneira homogênea ao redor do olho. Um olho saudável é bem humidificado e lubrificado. Quando você realiza um procedimento na pálpebra, seja estético ou funcional, pode comprometer esse delicado sistema de piscar”, diz o médico.
“Por isso, é importante avaliar a qualidade do filme lacrimal e se há algum tipo de olho seco antes de realizar procedimentos estéticos palpebrais. O botox, apesar de amplamente utilizado, também pode causar algumas alterações nas pálpebras. Ao aplicar a toxina, estamos temporariamente paralisando os músculos. Por exemplo, uma injeção de toxina no músculo que eleva a pálpebra pode resultar em ptose temporária, o que dá um aspecto de olho caído. Embora o efeito seja passageiro, pode causar desconforto temporário”, completa.
Hereditariedade
Existe um grande componente genético em diversas doenças oftalmológicas, como ceratocone, glaucoma, degeneração da retina, entre outras, segundo o oftalmologista. Neste sentido, ele orienta que se há alguma doença oftalmológica na família, como no pai, mãe ou irmãos, é muito importante investigar, passando por uma consulta oftalmológica completa. “Quando detectamos o problema precocemente, é possível oferecer um prognóstico visual muito melhor ao paciente. Diversas doenças oftalmológicas são de fato genéticas, aumentando a chance de ocorrência. Se você tem algum parente próximo com essa doença, isso serve de alerta. Tem alguma doença oftalmológica na família? Diga: ‘Família, devo procurar um oftalmologista para me avaliar agora'”, alerta.
Tratamento
As doenças oftalmológicas são muito heterogêneas, com situações que envolvem desde tumor no olho, a catarata e miopia. Cada uma tem seu tratamento específico, mas houve um grande avanço nos últimos anos, como no caso do glaucoma. Essa é uma doença que, se não tratada, leva à cegueira, e é uma cegueira que o paciente não enxerga nem de dia nem de noite. Já quando tratada na hora certa, da maneira correta, consegue-se evitar a cegueira em 95% dos casos. Por exemplo, de cada 20 pacientes com glaucoma, em 19 deles é possível manter a visão.
“Existem várias dicas específicas que podemos sugerir aos pacientes, tais como aumentar a distância ao ler, diminuir o tempo de tela, evitar exposição prolongada ao ar-condicionado, que pode deixar o olho seco, entre outras. Mas talvez o mais importante seja alertar que o olho é um órgão extremamente vascularizado e rico em tecido nervoso. Ou seja, tudo o que faz bem para o coração e para o cérebro também faz bem para os olhos. Inclusive, estudos recentes mostram que é possível detectar até Alzheimer em um exame oftalmológico, tamanha a sua importância”, conclui o oftalmologista.