Saúde e acesso às pessoas trans são lutas que marcam o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+

Médico catarinense e escritor sobre o tema, analisa a data, comemorada no dia 28 de junho

Desde 1969, quando um grupo de frequentadores de um bar homossexual nos Estados Unidos marchou pedindo o fim da violência contra a população LGBTQIA+, o dia 28 de junho foi adotado como o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. Desde então, a comunidade vem lutando por mais direitos e, aos poucos, garantindo conquistas, entre eles à saúde.

Em 2022, pela primeira vez, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgou dados oficiais sobre a comunidade não heterossexual no país. Segundo o levantamento, 2,9 milhões de pessoas a partir de 18 anos se declaram lésbicas, gays ou bissexuais. O IBGE alerta, no entanto, que esse número pode estar subnotificado.

A inclusão e luta desta população faz todo sentido e é necessária frente a violência que sofrem! Apenas em 2022, 256 pessoas deste grupo foram assassinadas ou cometeram suicídio a cada 34 horas no país, segundo dados coletados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB).

Para o médico catarinense, Dr. José Carlos Martins Júnior estes números alarmantes escondem uma realidade ainda mais difícil. “Essa população enfrenta preconceito no atendimento em lojas, na oportunidade de trabalho, no bullying escolar, nos olhares que julgam, e infelizmente, no atendimento médico. Tudo que elas querem é respeito e o direito de serem livres”, pontuou o médico.

Um dos avanços que o país teve na área da saúde LGBTQIA+, foi que, desde 2008, o Sistema Único de Saúde (SUS) incluiu a redesignação sexual entre seus serviços realizados, de forma completamente gratuita. Isso, no entanto, não facilita a vida dos pacientes trans, que têm apenas cinco hospitais no país realizando o procedimento pelo SUS. Além disso, a fila de espera pode levar anos, e aqueles que não podem pagar o procedimento numa clínica especializada, muitas vezes recorrem às cirurgias clandestinas. Outro problema, aponta José Carlos Martins Junior, é o preconceito da classe médica em atender estes pacientes e também com os profissionais que o fazem. “Até eu já fui discriminado por colegas por atender esta população”, lamentou.

– Aqui na clínica já atendi pacientes de todas as idades e lugares do mundo, cada um com uma história diferente. Noto que um dos maiores conflitos destes pacientes é a disforia de gênero, que não tem nada a ver com estética, mas sim com saúde. A disforia está relacionada a como a pessoa se vê e por isso muitas delas recorrem às cirurgias para se adequarem. O SUS precisa abrir espaço para estas pessoas, com profissionais especialistas no assunto. Nem todo paciente trans quer fazer uma cirurgia, mas tratar a disforia o quanto antes, vai amenizar o sofrimento desta pessoa”, complementou.

O médico comanda em Blumenau (SC), o maior centro privado de atendimento a pacientes transgêneros do país, a Transgender Center Brazil. No local, mais de 600 pacientes já realizaram a cirurgia de redesignação sexual.

Também é autor do único livro em língua portuguesa sobre o tema. “Transgêneros: Orientações médicas para uma transição segura” reúne em 180 páginas todo o seu know-how e expertise no assunto, trazendo para a população transgênera informações seguras acerca do tema. Seu trabalho, e da clínica tiveram repercussão em mais de 50 países após a cirurgia inédita das gêmeas trans, que continua sendo a única até agora. O dia a dia do trabalho dele está sendo mostrado no documentário “Gêmeas Trans”, que estreou no início do mês, na HBO Max e discovery+, e alcançou o segundo lugar no Top 10 América Látina e o  1º lugar  no Top 10 Colômbia.

“Infelizmente o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ não foi criado para celebrar, mas sim para evidenciar a luta pelo direito de existir sem perseguição. Essa escolha é de todos nós enquanto sociedade”, finalizou o médico.

Fotos Dr: Camilla Carniel

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