Pacientes trans mulheres enfrentam barreiras no acesso ao diagnóstico contra o câncer de próstata

No mês de conscientização sobre o câncer de próstata, mulheres trans enfrentam dificuldades no acesso ao diagnóstico e tratamento. Equipes médicas em hospitais e postos de saúde precisam respeitar estas pessoas já no primeiro atendimento.

Outubro e novembro são meses que servem para alertar a população sobre uma das doenças que mais acometem pessoas no mundo, o câncer. Estas campanhas visam, principalmente, conscientizar sobre o diagnóstico precoce, que permite chances maiores de cura.

Assim como pacientes transsexuais que nasceram com o sexo biológico feminino e transitaram para o masculino devem se atentar ao câncer de mama, o contrário também deve ser considerado para o câncer de próstata, onde pacientes trans femininos devem redobrar os cuidados, explica o médico José Carlos Martins Junior, que comanda a clínica Transgender Center Brazil, em Blumenau.

– A doença é uma grande questão de saúde pública no mundo todo, mas muitas pessoas acreditam que ele se resume apenas aos homens cis, que nasceram com o sexo biológico masculino, o que não é verdade.

Estes cuidados valem também para pacientes que passaram pela cirurgia de redesignação sexual, ou seja, mudaram o sexo biológico do masculino para o feminino, pois a próstata continua lá. 

“Essas pacientes também têm tendência a ter neoplasia (câncer) de próstata, apesar que, as que fazem uso de terapia hormonal feminino, a tendência é que a testosterona baixe e ela fique menos exposta a doença. Os exames para prevenção são os mesmos de qualquer pessoa cisgênero, o que vai mudar é a particularidade de uma mulher trans redesignada, que ao invés de fazer o toque retal para exame de próstata, ela acaba fazendo o toque vaginal, que se encontra mais perto da próstata e de mais fácil manipulação”, pontua Dr. Martins.

Além das barreiras que as pessoas cisgêneros enfrentam no nosso país, pessoas trans enfrentam uma barreira maior, porque temos que levar em consideração a identidade de gênero.

– Imagine uma mulher trans, que se identifica como mulher e não tem um nome social feminino, ou, tem um nome social feminino, mas seu fenótipo, ou seja, suas características físicas ainda lembram o corpo, ou a face masculina, ou não apenas ainda lembram, mas essa paciente não tem o desejo de alterar as suas características corporais. Temos que lembrar que nem todas as pacientes querem se manifestar no gênero. A dificuldade no atendimento começa já no preenchimento de um cadastro, no olhar de uma atendente, no chamar de uma enfermeira, e finaliza com o atendimento médico, onde nem sempre os médicos estão preparados pra isso.

Segundo o médico, não existe um preparo dos profissionais para atendimento a estas pessoas. “A gente foi treinado para classificar as pessoas como masculino e feminino e quando se fala em feminino, você tem um fenótipo feminino, e no masculino da mesma forma. Quando aquilo não se encaixa fisicamente você tem muita dificuldade em aceitar, e é onde surge o preconceito”, justifica.

– Precisamos de uma campanha específica para as mulheres trans, para que recebam as informações na linguagem que falam, da maneira como ela precisa ser entendida. Você não consegue pegar uma mulher trans, que se entende como mulher, que tem uma vivência feminina e fazer com que ela vá a uma campanha de um órgão que é especificamente masculino, que liga esta mulher trans ao mundo masculino. E tudo que ela não quer é isso. A disforia dela, a luta diária dela é para evitar qualquer ligação com o mundo masculino e a sociedade quer fazê-la entender que ela precisa procurar um atendimento para uma especialidade masculina. Isso é realmente ineficiente para a população trans.

Imagens: Divulgação

Foto 8255: O médico José Carlos Martins Junior, da Transgender Center Brazil, em Blumenau (Crédito: Camilla Carniel)

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