Campanha Outubro Rosa serve de alerta a pessoas que utilizam hormônios na readequação sexual
Quando falamos em câncer de mama a imagem que nos vem à mente são de mulheres, certo? Desde pequenos somos condicionados a ver a doença como um problema de saúde feminino, mas você sabia que ela pode atingir homens também?
Sim, homens podem desenvolver a doença, embora de forma mais rara. Apenas 1% do total de casos de câncer de mama é masculino. “Como eles têm glândulas mamárias e hormônios femininos, ainda que em quantidades pequenas é importante também ficarem atentos às mamas e observar qualquer alteração”, explica o médico José Carlos Martins Junior.
Ele e o médico Claudio Eduardo de Souza comandam a Transgender Center Brazil, em Blumenau, clínica especializada no atendimento a pacientes trans e pontuam que estas pessoas também estão na lista de cuidados.
A campanha Outubro Rosa é voltada para alertar principalmente mulheres cisgênero (aquelas que se identificam com o gênero biológico) sobre a importância da prevenção contra o câncer de mama. Mas, os especialistas em pacientes trans alertam: pessoas transexuais e transgêneros também podem ter a doença e precisam se prevenir. Recentemente os médicos comemoraram a marca de quinhentas cirurgias de transição sexual na clínica, em Santa Catarina.
Os cuidados na população trans
Embora, como citamos, a doença seja mais comum em mulheres, com mais de 65 mil novos diagnósticos ao ano, pacientes trans também devem ficar atentos. Um estudo observacional do University Medical Center, em Amsterdam, publicado em 2019, envolvendo 2.260 mulheres trans e 1.229 homens trans, apontou 15 casos de câncer de mama em mulheres trans, após uma média de 18 anos de tratamento hormonal e demonstrou um risco maior que a população masculina cis. Na população de homens trans, 4 casos foram detectados, média menor que o esperado para mulheres cisgênero.
O estudo revelou que o risco geral de câncer de mama em pessoas trans permanece baixo e, portanto, parece suficiente que pessoas transgênero sigam as diretrizes de triagem, iguais às indicadas para pessoas cisgênero.
Para o médico José Carlos Martins, que recomenda o uso de hormônios em seus pacientes, os riscos são pequenos, mas a recomendação é sempre observar qualquer alteração.
“No caso dos homens trans, que transitam do feminino para o masculino, embora o risco de câncer de mama reduza significativamente após a cirurgia de retirada das mamas, ainda assim, os exames clínicos anuais são recomendados para pessoas com 50 anos ou mais”, acrescenta.
No caso de mulheres trans, o risco está ligado aos hormônios de afirmação de gênero, que induzem as mudanças físicas desejadas. Isso poderia levar a um aumento do risco de câncer na região. “Toda vez que a mulher trans usa o hormônio estrogênio, ela passa a ter uma mama e essa mama passa a ter risco de câncer, assim, ela precisa tomar os cuidados como toda mulher”, pontuou o também cirurgião Claudio Eduardo de Souza.
Segundo a mesma pesquisa holandesa, as mulheres trans têm cerca de 47 vezes mais chances de desenvolver câncer de mama do que os homens cisgênero.
Os médicos relatam que nunca enfrentaram um caso de paciente que tenha desenvolvido a doença após o tratamento hormonal, mas reconhecem que pode acontecer. “Infelizmente ninguém está livre de ser acometido por essa enfermidade, mas precisamos alertar a população trans sobre a prevenção e tratamento do câncer de mama, incluindo este público nas campanhas educativas”, finalizaram.
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