Além dos docentes, profissionais da comunicação que precisam usar diariamente a voz, também estão no grupo daqueles que apresentarão algum tipo de doença ao longo da vida
Data 14.04.2024 – Estudos realizados em todo o território nacional, com a intenção de investigar a prevalência de problemas de voz em professores, mostrou um perfil epidemiológico no Brasil, constatando que aproximadamente 66,7% dos docentes devem apresentar rouquidão em algum momento da vida. Além deles, os profissionais de comunicação, que também usam com frequência a voz, são outra categoria que precisa de atenção.
“O uso excessivo da voz, pode gerar algumas doenças nas pregas vocais como os nódulos, pólipos, cistos e sulco vocal, o que gera uma série de sintomas como a rouquidão persistente, tosse seca, dores na região da garganta, pigarro, alteração no timbre vocal, falhas na voz, boca seca, diminuição no volume da voz, produzindo um esforço para falar e sensação de corpo estranho na garganta”, destaca o médico otorrinolaringologista e membro da Associação Brusquense de Medicina – ABM, Tiago José Conrado.
Há cerca de 20 anos, a professora Kátia Medeiros Corrêa, mantém uma rotina de trabalho semanal com aulas das 7 da manhã às 10 da noite, atendendo alunos desde o sexto ano até a educação de jovens e adultos, segundo ela, falando a todo o instante. Porém, relata que já passou pelos problemas causados pelo uso da voz em excesso, pois os barulhos na sala de aula, com alunos que as vezes são muito agitados, somando aos externos, como quando há uma construção, por exemplo, também influenciam no volume da voz.
“Durante todo esse tempo de trabalho, em que acabei perdendo a voz, eu até fiz uma investigação uma vez, porque a minha voz se fechava o tempo todo, mas não era um nódulo. O tratamento que me foi indicado, pois na época fui procurar médicos, foi que me hidratasse muito e tentasse manter sempre o mesmo tom de voz. Agora eu estou sempre tentando alterar a minha voz para que eu consiga passar o que preciso para os alunos”, conta a docente.
DOENÇAS
Ainda segundo o médico otorrinolaringologista, as doenças que atingem a voz podem ser divididas em lesões infecciosas, sendo a principal delas, as laringites, que são ocasionadas por vírus e tem como principal sintoma uma rouquidão que dura, aproximadamente, sete a 10 dias. Há também as doenças estruturais que atingem a laringe sendo que, neste caso, a principal delas é o nódulo de prega vocal, que é uma lesão fonotraumática ocasionada por uso incorreto da voz. Outras doenças também podem ocorrer como sulcos vocais, pólipos de pregas vocais e os cistos, além de situações emocionais ou psicológicas que podem afetar de maneira indireta a voz, pois altera a dinâmica da respiração e a dinâmica da projeção vocal.
“É importante lembrar também das doenças neoplásicas, que não são tão frequentes quanto às doenças infecciosas e fonotraumáticas, mas é fundamental destacar que o câncer de laringe é uma doença com um potencial de gravidade muito maior, por isso, toda rouquidão persistente deve ser investigada. Lembre-se que, as doenças infecciosas e inflamatórias, de uma maneira geral, não evoluem para um câncer de laringe. Os principais fatores de risco para um câncer de laringe são tabagismo, alcolismo e a infecção pelo vírus HPV”, destaca o médico.
CUIDADOS COM A VOZ
A voz é uma ferramenta de comunicação de extrema importância para o ser humano então, principalmente, nos casos de alteração da voz ou rouquidão que dure por mais de 14 dias, por exemplo, a orientação é procurar um médico, pois é preciso avaliar várias patologias, sendo as principais delas as doenças benignas da laringe. No entanto, o câncer de laringe é um diagnóstico diferencial, principalmente nos casos com uma de rouquidão e disfonia persistente.
“Cerca de 21% da população é constituída de profissionais da voz, que dependem do uso dela para seu sustento. Sendo assim, essa avaliação precoce ajuda muito no tratamento adequado e nas chances de cura destas doenças”, frisa.
DICAS
Conforme explica o otorrinolaringologista Tiago José Conrado, é importante que os professores e outros profissionais, como os de comunicação, realizem aquecimento vocal e para isso é fundamental a ajuda de um fonoaudiólogo, além de seguir outras dicas fundamentais para manter a saúde da voz.
“Outras dicas seriam evitar fumar o cigarro, ele agride bastante a nossa laringe; evitar pigarrear, pois isso gera um movimento involuntário e provoca atrito nas pregas vocais; evitar gritar; evitar o uso excessivo de ar condicionado, que gera ressecamento no trato local; evitar falar em ambientes ruidosos; evitar o uso de sprays e pastilhas, que tende a mascarar e pode agravar ainda mais o quadro da rouquidão. Também é importante manter uma alimentação saudável e, para a nossa saúde vocal, ingerir de 2 a 3 litros de água por dia, pois a água é o principal fator de proteção da nossa laringe. A prática regular de exercício físico é outra dica fundamental para evitar os problemas na voz”, destaca o médico.
